“Enquanto mirava aqueles corpos pálidos, franzinos e seminus, sentia no ar uma desagradável atmosfera de Dachau e Auschwitz; estavam todos condenados. Tentava perceber como é que tantos pais, por temor e respeito a um ‘Deus omnipotente’, chamado Pátria, entregavam, quase sem ripostar, os seus próprios filhos a um destino que se adivinhava sórdido e cruel.
No palco da guerra, a morte não se comprazia com carne doente e estafada. Exigia, sobretudo, corpos tenros e saudáveis para as suas orgias de sangue, e o homem apressava-se a fornecerlha, como se de um tributo se tratasse. Era um processo que Daniel assimilava com muito custo.
– É uma verdadeira perda de tempo. – Insistia o Rebelo pessimista. – Vamos todos ser chamados…
– … e lixados com ‘F’ grande! – Rematou Daniel.”
Na guerra do ultramar, Portugal sofreu 3455 baixas (militares) em Angola, 3136 em Moçambique e 2240 na Guiné, num total de 8831 vidas; tantas como toda a população do atual município de Aljustrel, por exemplo.
António Manuel Gonçalves Castro, Técnico de Informática (grau 2, nível 2), reformado, nasceu em 3 de maio de 1951 em Lisboa na freguesia dos Anjos.
Licenciado pela Universidade da Vida, Diretor do Instituto das Suas Próprias Ideias, não foi Correspondente de Guerra, mas na guerra esteve e, desde sempre, Ministro da Administração Interna (na sua própria casa). Começou desde muito cedo a desenvolver o gosto pela leitura e pela escrita (quando começou a ler e a escrever). Compreendeu então que, ao longo dos anos, evoluía nesta área porque, assim que escrevia cada novo texto, destruía o anterior (por achá-lo ingénuo e, por vezes, demagógico, comprovando deste modo que também evoluía em relação à idade e ao temperamento). A ter guardado tudo o que escreveu (de ótimo ou de péssimo), ao longo de 68 anos, seria considerado, hoje em dia, um autor quase tão prolífico como Corín Tellado ou Lope de Vega.
Autodidata, como António Aleixo, Machado de Assis, Charles Dickens, William Faulkner (e tantos outros com os quais não se pretende comparar), viveu cerca de 25 anos em Moçambique, onde publicou os seus primeiros textos no jornal de Notícias de Lourenço Marques (Maputo) no suplemento Coluna em Marcha durante a sua vida militar, de 1972 a 1974, no tempo da guerra colonial. Antes de se falar no 25 de Abril, já tinha projetado partir, à procura de novos horizontes, mas o fim da guerra apressou o seu regresso a Portugal. Chegou a publicar um texto humorístico no “Reader’s Digest”, mas contingências da vida impediram-no de prosseguir.
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