As realizações poéticas encantam, quando mais não fosse pela riqueza das imagens procedentes das possibilidades semânticas, seria pela musicalidade, tal a potencialidade rítmica dos versos. Vale lembrar que, em “Arte Poética”, Paul Verlaine escreveu no primeiro verso: “Antes de tudo, a música”. Um bom exemplo está em “Planura”, com seus versos:
Amo-te, porque te amo
Em definições extensas de dar…
E sinto-te quando te chamo
Dentro de mim, ao despertar!
Os cantos vão prolongando os apelos que tornaram o sonho tanto refúgio quanto símbolo, construídos nas facetas fascinantes de um vigoroso discurso poético. Sonhemos, pois, com Ana e com seus poemas que trazem, em sua maioria, a palavra sonho, ora atuando como substantivo, ora como o verbo sonhar.
O que precisa haver na síntese do sonho: amor e fé, pilares que apoiam quase um mito, tal a grandeza da esperança resultante. Agora vale lembrar outro poeta, Carlos Drummond de Andrade: “Amor – pois que é palavra essencial – / comece esta canção e toda a envolva”. O processo de envolvimento e exame existencial conclui uma justaposição dinâmica, palavra e ritmo, com a qual é tecida a poética de Ana Tapadas. A poeta cria uma associação comunicativa fortalecedora de seus versos.
Gerana Damulakis (Academia de Letras da Bahia)
Ana Tapadas nasceu numa região de Portugal chamada Alentejo, no concelho de Ponte de Sor, onde a densidade populacional (cerca de 19 habitantes por quilómetro quadrado) ilude as pequenas dimensões territoriais do país.
Ser alentejana é isso: ter a capacidade de estar só na imensidão da planície, olhar a mutação da paisagem em quatro estações boreais bem definidas; saber que cada humano é uma pequena ilha; ser persistente e não desistir da humanidade. Sabe ser uma pessoa tão banal que ousaria dizer que não tem uma biografia – vive.
A sua vida relatar-se-ia em trabalho. O curriculum Europass diz que trabalhou mais de quarenta e seis anos como professora do Ensino Secundário, tendo desempenhado diversos cargos de coordenação. Aquilo que mais fez na vida foi estudar – não existe sem isso. Colecionou diplomas, mas não os afixa, pois julga que não a definem.
Todo o resto é íntimo, feito de afeto e de laços profundos – acredita no Amor, na simplicidade e na Verdade antes de todas as coisas.
A sua biografia resume-se a uma identidade, que sabe transitória, assim sintetizada nos circuitos oficiais:
Nacionalidade portuguesa;
Data de nascimento em 23 de Janeiro de 1958;
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras de Lisboa; Mestre em Literatura e Cultura Portuguesas pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
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