O que o leitor vai encontrar é um conjunto de textos que Martim Afonso de Redondo (MAR) escreveu no último ano de vida e intitulou “O fim do mundo e outras lendas”. À maneira de alguns escritores notáveis, nomeadamente brasileiros, se estivermos a pensar na língua portuguesa, MAR usou com maestria as possibilidades que uma obra póstuma proporciona. Desde já, acrescento que julgo que usou sem abusar dessas possibilidades e construiu uma obra interessantíssima.
De uma forma engenhosa e laboriosa – rima e é verdade -, o velho MAR articula seis peças aparentemente independentes, desde a introdução da obra intitulada “Carta a J.”, ao epílogo “Exígua alma”, passando por “O Juízo Final”, a “Síndrome da Alma Desaparecida”, o “Eternozoide“ e o “Meu Deus Africano”.
A eternidade e o tempo atravessam os poemas a partir de uma pulsão vital impressionante de MAR. Alguns traços melancólicos são cortados, cerce com o seu humor sanguíneo, bloqueando qualquer inclinação para a nostalgia. O que impera sempre é o apetite, quase voraz, por coisas boas, desde a comida e os charutos até aos automóveis e ao sexo.
Manuel Sobrinho Simões
“eternidade
é uma palavra
que dói,
que me incomoda
e perturba.
vamos
apenas
viver
isto
dia após dia.” (MAR)
Martim Afonso de Redondo, heterónimo de José Eduardo Guimarães, nasceu em Matosinhos e faleceu no Porto a 26 de março de 2015. Autor de 3 livros de poesia: “Antes e Depois do Cais de Seixas”, “Nos Interstícios da Alma e Canções de Desamor” (ambos edições Modo de Ler) e, postumamente, esta obra (“O Fim do Mundo e Outras Lendas”).
José Eduardo Torres de Eckenroth Guimarães, nascido em Matosinhos a 26 de março de 1949, é médico e Professor Catedrático de Medicina. Publicou o livro “A Morte de Martim Afonso de Redondo”.
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